Uma conversa entre uma executiva e uma Young Leader sobre a beleza e os desafios sobre a relação de mentor e mentorado
Hoje, a coluna do Fórum CEOs do Amanhã fornece duas perspectivas sobre a relação da mentoria. Confira!
Com vocês, a mentorada
Sou a Fernanda, paulistana de 25 anos, formada em administração de empresas pela FGV e coleciono passagens por diferentes segmentos de mercado, como trabalhos informais, multinacional e startup, até que fundei minha própria empresa em 2017. Hoje, estou na Natura como gerente de social selling. Desde criança, sempre fui muito energética e hoje uso essa energia e repertório para liderar projetos que buscam questionar os modelos tradicionais, a fim de desenvolver iniciativas mais conscientes e inovadoras.
Há alguns anos, a frase de um quadro me tocou de maneira inesperada: “toda pessoa que passa pela sua vida tem algo a te ensinar”. Naquele instante, experimentei um momento de arrependimento, por todas as pessoas que passaram pela minha vida e que não tive a oportunidade de conhecê-las por inteiro – talvez porque não quis ouvi-las, porque só queria falar sobre mim ou porque não tive a chance de iniciar uma conversa.
Isso me levou à mentoria profissional. Ao pesquisar o termo no Google, me deparei com a seguinte definição: “trata-se de uma ferramenta de desenvolvimento profissional. A mentoria é feita com um profissional com expertise em uma área específica com outro profissional menos experiente, que deseja crescer”.
Estranharam alguma coisa? O mercado é extremamente competitivo e temos que ter cautela quando olhamos pessoas e conexões humanas apenas como uma ferramenta de alavanca profissional; se isso acontece, a beleza se perde por completo. Assim, quero trazer um outro olhar sobre a mentoria profissional e como pode ser valiosa para ambos quando realizada de forma humanizada.
Durante meu primeiro ano na Natura, como intraempreendedora, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas e soube aproveitar o ambiente para me aproximar de líderes que admirava e gostaria de ter uma troca genuína. Sempre ouvia sobre a Duda, um nome carregado de elogios sobre sua experiência com a empresa, seu conhecimento técnico e pelo ser humano que era. Na época, a Duda era nossa diretora de marketing prestes a fazer uma transição para a diretoria internacional, cheia de bagagem e uma referência de liderança feminina.
Sempre me considerei uma pessoa ambiciosa, no lado bom da palavra, afinal, é essa característica que me faz lutar até o último segundo pelo que quero na vida. Quero chegar longe, ocupar lugares como mulher e que eu possa fazer transformações reais e gerar impacto positivo. Sempre penso que “o não eu já tenho”, o que me ajuda a destravar barreiras mentais, e foi assim que consegui a minha mentoria com a Duda: pedindo.
Deixei as formalidades de lado e consegui o WhatsApp, mandei uma mensagem me apresentando novamente, pois ela já tinha me visto em uma reunião, deixando claro o meu interesse em tê-la como mentora. No mesmo dia, a Duda me respondeu e não houve qualquer relutância em dividir sua história comigo. Começamos com um almoço descontraído e sem pauta, depois fiquei responsável por puxar as próximas agendas e pautas, sem compromisso de periodicidade ou tema.
Nossas trocas sempre aconteciam de maneira leve, empática, sem regras e com muita escuta ativa. Afinal, se você não escuta o outro, como se pode construir um relacionamento de verdade? E a conexão foi real! É muito intenso quando você entende que a pessoa também tem medos e inseguranças como qualquer outra no mundo. A vulnerabilidade da Duda me inspirou a ser mais autêntica e mais forte na minha caminhada profissional, ela me fez sentir que é possível chegar lá.
Foi extremamente importante ver a Duda assim, do jeitinho que ela é. Como conseguiria me inspirar em uma líder que só fala sobre a beleza de estar naquele lugar? Impossível! Isso também permitiu que eu expressasse minhas opiniões e até a aconselhasse. Quando menos esperava, uma amizade se formou, sempre acessível, que me abriu portas importantes na carreira – inclusive esse papel que assumo hoje – e que me ensinou muito.
Passei a entender que somos todos seres humanos, não devemos ter medo de quem está do outro lado da mesa e, sim, aproveitar cada segundo dessa troca. Mentoria é um dever para todos que desejam aprender com a vivência do outro, mentoria é sobre conexões reais e humanas. Obrigada Duda por ter passado pela minha vida!
Com vocês, a mentora
Sou a Duda, casada com o Fábio, mãe da Malu, 10 anos, e do Pedro, 7. Comecei minha carreira profissional na Natura como trainee em 2000, e tive a chance de participar de projetos muito especiais por lá, como a criação da área de datas comemorativas e do marketing de ativação do Brasil, passando por todas as marcas e categorias ao longo dos anos. Atualmente, estou há sete meses em um novo desafio na área internacional.
São 20 anos de Natura, foi lá que aprendi a minha vocação e onde me tornei “Duda”. Hoje, é difícil que as pessoas entendam o porquê de eu estar tanto tempo na mesma empresa, mas vivi muitas Naturas ao longo desse período, e as pessoas com quem me relacionei foram fundamentais para que pudesse viver essa jornada de crescimento e de aprimoramento contínuo.
Uma vez me perguntaram em uma reunião porque eu levava tudo para o pessoal, e lembro como se fosse hoje a minha resposta: “é absolutamente pessoal! Não tenham dúvida que estou aqui porque é minha escolha pessoal e não acho que consiga me dividir em pessoa e profissional!”.
Para mim, aquele dia foi um marco, pois pude expressar quem era e o que eu acreditava, e isso só foi possível porque tive o apoio de uma rede de pessoas que construí ao longo dos anos. Essa rede foi formada informalmente, alguns por afinidade, outros por conexão de propósito ou por acreditar que cada um pode contribuir com o outro. Por fim, tive a chance de contar com grandes mentores ao longo da minha trajetória.
Lembro a primeira conversa que tive com o grupo CorageN, de jovens empreendedores da Natura, e guardo com muito carinho, pois tive a chance de ouvir novas ideias, perspectivas e conseguir agregá-las com o que vivi até então. Sempre temi ficar presa a uma única “fórmula” e são momentos como aquele que proporcionam a ampliação do olhar.
Naquele grupo estava a Fernanda, que logo depois perguntou se poderíamos trocar percepções e reflexões sobre o programa e sobre a sua vivência. Topei na mesma hora, uma vez que são estas conexões que tornam a caminhada mais frutífera e alimentam a nossa rede.
Acredito que não exista um padrão ou formato ideal para mentoria. Estamos falando de conexão e troca, e isso depende de encontrar o que é valor para ambas as partes, portanto, é um processo absolutamente pessoal e único.
Fernanda me trazia um frescor no seu olhar, uma energia acima da média para a transformação e para a inovação. Ela questionava o status quo, mas com o respeito de entender o porquê de as coisas serem como são. Fiquei encantada ao ver aquele brilho no olho e vontade de fazer acontecer, sempre muito presente e consciente do seu papel para a empresa e para a sua jornada.
A troca foi muito especial, pois estava vivendo uma mudança profunda na carreira. Aquele frio na barriga de se jogar ao novo me parecia cada vez mais atraente ao ver aquela jovem destemida querendo expandir o seu olhar. Obrigada, querida Fernanda, por ter me dado ainda mais coragem para testar o novo, o desconhecido e voltar a ser aprendiz. Feliz de poder contar com você na minha vida. Nosso maior legado sempre será pessoas e o quanto podemos fazer diferença para a vida delas, e saiba que você fez na minha!
Para dar o start na mentoria
Dicas da Fernanda:
Faça uma lista das pessoas que te inspiram (pode ser fora ou dentro do seu trabalho atual);
Procure pelo LinkedIn, e-mail ou WhatsApp dessas pessoas para pedir sua mentoria;
Fique tranquilo(a), o máximo que você vai receber será um “não” ou será ignorado;
Durante a mentoria, seja você mesmo e não tenha medo de perguntar o que deseja.
Dicas da Duda:
Abra espaço na sua agenda para mentorias, elas agregam muito mais do que se imagina;
Permita-se conhecer o mentorado e o que é valor para ele, ambos ganham com a jornada;
Não queira ter as respostas certas ou fórmulas ideais, se conecte e se permita ser você;
A mentoria é uma questão pessoal, por isso, cada uma é única e intransferível.
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