O ano é 2020 e não temos como negar: a inovação aberta se tornou um dos coletes salva-vidas que sustentarão o crescimento econômico das empresas a médio e longo prazos
Criado por Henry Chesbrough para indústrias e organizações que promovem ideias, pensamentos, processos e pesquisas abertos, gerando conexões com startups e com o ecossistema acadêmico, o termo “inovação aberta” definitivamente deu certo. De acordo com pesquisa realizada 100 Open Startups no Brasil e apresentada em agosto de 2020, o volume de acordos de inovação aberta entre empresas e startups teve um crescimento exponencial de 20 vezes nos últimos cinco anos.
Outro número do levantamento que salta aos olhos diz respeito ao total de empresas dos mais diversos setores – serviços financeiros, energia, alimentos e bebidas, saúde, indústria química, educação etc. – que fizeram inovação aberta com pelo menos uma startup em 2019: 1.635 organizações!
Essa escalada dos números é consequência direta da clara percepção por parte da liderança de que quem dita a regra do jogo no mundo dos negócios é a persona definida por uma palavra: cliente. Seja no âmbito do B2B ou do B2C, o cliente está inserido no atual mundo ágil, no qual as necessidades e formas de consumo transitam por novos caminhos a todo momento.
A incerteza faz parte do jogo
Para enfrentar esse desafio, é preciso que as empresas estejam abertas às novas possibilidades de fazer negócios em ambientes incertos. Por isso, cada vez mais as grandes corporações buscam se aproximar do ecossistema externo por meio de programas de inovação e da presença em hubs – espaços abertos que reúnem os agentes da inovação interessados em fazer novos negócios.
Um desses hubs é o Centro de Experiências Científicas e Digitais da Basf, onono, localizado no nono andar do edifício onde está o escritório central da Basf, em São Paulo. O onono é um espaço aberto propulsor da criação de negócios entre clientes, fornecedores, startups, colaboradores e universidades, onde os agentes de inovação trocam melhores práticas no bom conceito da realização de benchmarkings.
Em diversos encontros que já realizamos no onono, muitos executivos e gestores de inovação mencionaram que os resultados alcançados por meio dos projetos de inovação aberta ainda têm grande potencial de alcançar níveis mais elevados de desempenho, principalmente, quando analisamos o innovation rate, indicador que mede a parte da receita com produtos ou serviços novos ou aprimorados em comparação com a receita total por um determinado número de anos.
Inovação e empatia caminham juntas
Em muitos casos, concluímos que isso acontece porque as empresas investem energia demais em inovações de sustentação e pouca energia em inovações criadoras de novos mercados. Como expõe o livro O Paradoxo da Prosperidade, as inovações de sustentação focam em aprimorar produtos já existentes. Apesar de serem importantes para a manutenção dos resultados, geram pouca evolução quando se trata de novos modelos de negócios.
Por sua vez, as inovações criadoras de mercado focam no desenvolvimento de produtos simples e acessíveis para um consumidor mal atendido ou ainda não atendido. Com isso, são fontes latentes de crescimento nos resultados financeiros das empresas, visto que utilizam do máximo potencial dos agentes da inovação para atender a essa demanda.
Então, como descobrir esse tal mercado consumidor mal atendido ou ainda não atendido? Não existe um processo ou um fluxograma com um caminho exato que leve à resposta certa. É aí que entra a conexão com o conceito de empatia.
O termo tem sua origem do grego EMPATHEIA, formado por EN-, “em”, e PATHOS, “emoção, sentimento”. Estudiosos do ramo da psicologia definem empatia como uma derivação da inteligência emocional e que pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva – que tem a ver com a capacidade de compreender a perspectiva psicológica do outro – e a afetiva, ou habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia.
Observando a experiência alheia
É esse o comportamento necessário para a prática da inovação aberta com foco em criação de mercado. De forma prática, cinco perguntas-chave norteiam o início da prática da inovação criadora de mercado:
Quem são os meus "não consumidores"?
Por qual motivo o acesso deles ao meu produto ou serviço é limitado ou inexistente?
Quem são os meus maiores clientes?
Como é a experiência de compra deles?
E mais ainda, por qual razão eles precisam do meu produto ou serviço na vida deles?
Essas perguntas estão diretamente associadas com a habilidade de se permitir experimentar as mesmas reações emocionais que o outro experimenta, ou seja, de ter empatia. Nesse sentido, é preciso que as empresas desapeguem de velhos conceitos estabelecidos ao longo dos anos de atuação e tenham agilidade para descontinuar o que não faz mais sentido e vontade de buscar novas oportunidades.
Não há como negar que 2020 trouxe à tona uma necessidade ainda mais urgente de colocar em prática essas ações. A pandemia tornou mais evidente os benefícios alcançados pelas organizações que já praticavam a inovação aberta e que, por consequência, conseguiram corrigir o rumo dos negócios de forma mais rápida e assertiva.
Por outro lado, aquelas que ainda fomentavam a inovação fechada e estavam distantes dos parceiros do ecossistema externo se viram forçadas a se aproximar do seu consumidor para entender suas necessidades atuais, a fim de não deixarem os resultados caírem abruptamente. E, com isso, sem perceber, colocaram em prática a empatia e, em muitos casos, recorreram a parceiros para continuarem ativas.
Portanto, ter consciência ativa de que a inovação aberta gera resultados impactantes para as empresas e para a sociedade é a chave para o início da transformação no modo de se relacionar com os agentes do ecossistema externo. E isso nada mais é do que um esforço contínuo. É preciso abraçar e acreditar nesse novo modo de fazer negócios.
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