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  • Ireno Tibúrcio

As amarras da estabilidade

Atualizado: 13 de jul. de 2022

Ser protagonista da sua carreira, pública ou não, garante uma vida com sentido e possibilita a construção de um legado sólido, potencializando nossas entregas



No início do século 21, concluir um curso superior e ingressar em um concurso público eram sinônimos de uma carreira de sucesso, estável, sem exposição aos riscos presentes na economia de um país emergente como o Brasil.


Embora a indústria do concurso público tenha se mantido em alta por muitas décadas, a chegada de uma geração movida a propósito, que busca trabalhos que façam sentido, começou a mudar essa noção de sucesso, uma geração composta por empreendedores e pais concursados.


Contudo, a pandemia da Covid-19 e suas terríveis consequências, como a instabilidade econômica e o aumento do desemprego, têm feito com que o concurso público volte a permear o pensamento do brasileiro.


Muito se fala que um concurso público é garantia de estabilidade, mas será que iniciar um emprego em busca dessa permanência, projetando passar toda sua vida executando aquela atividade – costumeiramente, sem qualquer identificação –, não significaria cessar sua liberdade, tirar o seu poder de escolha, perder um pouco do protagonismo da sua vida?


Protagonista da minha carreira

Quando ingressei na Caixa Econômica Federal como engenheiro civil, recém-saído da universidade, nos dois primeiros anos, meus planos de vida se resumiam à estabilidade que o emprego me trouxe e em como seria minha vida após 30 anos realizando aquela função.


Logo, essa visão de futuro me apavorou. Comecei a me sentir refém de um trabalho, ainda que tivesse pouco mais de 20 anos de idade. Foi quando passei a olhar fora da caixa, a enxergar novas possibilidades de carreira, a me permitir continuar onde estava, enquanto fizesse sentido para mim, a enxergar meu emprego como qualquer outro, afastando a variável estabilidade do meu dia a dia.


Foi quando passei a buscar novos desafios na empresa, e até mesmo fora dela, a sair da minha zona de conforto. Explorar outras áreas, mudar de cidade, enfrentar novos desafios, renovar os votos com a Caixa. A partir daí, o cenário mudou, tomei novamente o protagonismo da minha carreira, e sim, ainda na Caixa. Os resultados aumentaram, trouxeram um crescimento profissional ainda maior, e novamente passou a fazer sentido tudo que eu fazia.


Escolhas e renúncias

Quem é gestor público sabe das dificuldades de liderar um time já posto. Por outro lado, são pessoas que já integram aquele setor, por vezes, há anos. Portanto, incitar a ideia para que avaliem a possibilidade de novos desafios, utilizem a instituição e as demais áreas que podem atuar a seu favor é uma mudança de paradigma.


Simultaneamente, se faz necessário lembrá-los que fazem parte de algo maior, que sua parcela de trabalho contribui para o resultado da instituição, no qual também são responsáveis. Avaliar novas possibilidades e enxergar o sentido da sua atividade permite ao empregado tomar novamente o leme da sua carreira.


Cabe ao gestor a sensibilidade de identificar as características e momento de vida dos seus liderados, buscar extrair o máximo deles, mesmo que, para isso, precise abrir mão desses profissionais. Como já dito, fazemos parte de algo maior, e o que queremos no final é o sucesso da instituição. Quanto mais times engajados, mais resultados sustentáveis são conquistados.


Durante a pandemia, os empregados da Caixa puderam viver isso da forma mais contundente possível. São milhões de pessoas assistidas pelo auxílio emergencial, em um processo de bancarização digital sem precedentes. Líderes e liderados de diferentes departamentos unidos em prol de uma única causa, e por diversas vezes, atuando junto às agências nos pagamentos do auxílio, sendo parte do todo e explorando novas áreas.


Foi preciso olhar dentro e fora da Caixa, e a visão externa nos trouxe variáveis que solidificaram os resultados. Discutir novos valores dentro de uma cultura empresarial, observar de forma empática a experiência do usuário, reafirmar ou lapidar o propósito da instituição são ações que ajustam o rumo de qualquer empresa.


O líder da estabilidade

Como gestor público e líder de times com “estabilidade”, embora desafiador, tem a ver também com tirar o peso dessa palavra, do dia a dia dos seus liderados, demonstrar o significado do que fazem e, principalmente, como tomarem novamente o protagonismo das suas carreiras. É papel do líder ajudá-los a avaliar suas carreiras e até a viver novos desafios, dentro ou fora da instituição. E essa postura se reflete na multiplicação dos resultados das equipes.


Ser protagonista da sua carreira, pública ou não, garante uma vida com sentido e possibilita a construção de um legado sólido, potencializando nossas entregas. Ter profissionais nas instituições que vivenciam esse processo e sabem o momento de mudança é uma relação benéfica para ambos, empresa e empregado, pois otimiza os resultados ao dispor do profissional em seu melhor momento para aquela atividade.

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